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Perante a mais grave crise na história da aviação comercial, a primeira preocupação do Governo foi nacionalizar a TAP, à moda do PREC, embora o Governo, para não parecer tão ortodoxo quanto o compagnon de route, prefira dizer que o Estado fez um acordo com o consórcio privado, adquirindo a maioria das ações.
O Governo avançou e decidiu com a extrema-esquerda, uma operação, que também é uma opção ideológica, indemnizando em 55 milhões de euros o principal acionista e injetando de imediato 1,2 milhões de euros, do nosso dinheiro, na companhia em 2020. Para 2021, já estão previstos mais 500 milhões de euros num empréstimo com o aval do Estado, quando é público e notório que as necessidades apontam para o dobro da previsão inscrita no Orçamento do Estado.
Primeiro, começou por intoxicar a opinião pública e publicada com a ideia de que a mãe de todos os males da TAP tinha origem na privatização operada pelo governo anterior ao anterior – a culpa é sempre dos outros – atirou dinheiro para cima do problema, sem apurar o real estado da companhia que nacionalizou, sem apresentar qualquer plano de recuperação e sem nunca sequer ponderar sobre a sua viabilidade.
Depois, a administração da TAP, por mera coincidência, contratou a Boston Consulting Group para preparar o plano de reestruturação da TAP. Por acaso, calhou ter resultado num claro conflito de interesses, uma vez que são colaboradores dispensados pela própria TAP, e contratados pela BCG, que ficam a desenhar o plano da empresa que os despedira. Nunca antes se viu tal embuste, nem nunca alguém se terá permitido a tal ousadia.
Agora, atente-se à cronologia do plano. A duas semanas do termo do prazo de entrega do plano em Bruxelas, a administração da TAP faz saber que já tem um documento fechado. A três dias, a mesma administração fornece aos sindicatos alguma informação a conta-gotas, sobre os custos e encargos da reestruturação. A dois dias daquele prazo, o Conselho de Ministros aprova o plano e, na véspera, o Governo apresenta as linhas gerais aos grupos parlamentares. Um plano que toda a gente discute e comenta, mas que ninguém conhece.
Tudo isto tem um nome. Eufemisticamente podemos chamar-lhe falta de pudor, mas na verdade é mesmo má-fé. É inaceitável que o Executivo elabore e aprove um plano em Bruxelas e depois, com o facto consumado, pretenda responsabilizar o Parlamento por um ato de gestão do Governo, gizou como quis e com quem quis.
O jovem turco, da ala mais extremista do PS, que está de ministro e que um dia ameaçou bater o pé aos banqueiros alemães, afinal bateu em retirada e não tem sequer coragem para assumir as responsabilidades das suas próprias decisões.
O Primeiro-Ministro, que prometeu tudo a todos, menos a austeridade, afinal será o responsável pelo maior despedimento coletivo na nossa história democrática – cerca de 3.600 trabalhadores – por cortes salariais na ordem dos 25% e pela mais pesada redução da frota da companhia.
A TAP é mais um buraco criado pelo Governo, que deixou de ser um problema dos privados para ser um problema do País. Ao contrário, do que está a ensaiar agora, em 2016, o Governo sem pedir a opinião de ninguém, reverteu a privatização, de braço dado com o PCP e o BE, assumindo a TAP, “para o povo português, para o bem e para o mal”, sem cuidar de aferir sobre o preço deste equívoco ideológico.
E a pretexto da importância estratégica da empresa, o Governo anuncia que até 2024, e na perspetiva mais otimista, a TAP precisa de mais 1,8 milhões de euros. Dinheiro público que se inscreve nos orçamentos, mas que sai do bolso dos contribuintes. Repete-se, portanto, a receita da governança socialista, no seu melhor.
Este plano, das duas uma. Ou transformará a TAP no Novo Banco II ou, na pior das hipóteses, poderá desembocar na liquidação da companhia, com a extinção do “hub” de Lisboa.
É outra vez, e literalmente, o nosso dinheiro a voar!
José Cancela Moura
Artigo originalmente publicado no Povo Livre