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A preparação dos festejos do campeão nacional de futebol, em Lisboa, correu mal, mas a organização da final da Liga dos Campeões, no Porto, replicou a dose e confirmou que o Governo não tem emenda. Ninguém aprendeu nada com o mau exemplo de há duas semanas.
Se os britânicos puderam fazer tudo, a pretexto de um jogo de futebol por que razão devem os portugueses, contribuintes líquidos do Estado e cumpridores das leis da República, continuar sujeitos a cumprir as normas sanitárias da pandemia?
A verdade é que o ministro da Administração Interna não existe, está politicamente morto. A pasta da segurança, das polícias e da manutenção da ordem pública, está em roda livre.
Antes dos festejos do Sporting campeão, também o secretário de Estado do Desporto garantia um planeamento rigoroso para que tudo decorresse em segurança. Mas, quando a festa degenerou em bandalheira, logo sacudiu “a água do capote”. Aliás, ele e, basicamente, toda a gente, como o futuro ex-ministro da Administração Interna ou Fernando Medina, comentador que validou as decisões de Fernando Medina, presidente da Câmara. Surreal.
Sobre a final da Liga dos Campeões, João Paulo Rebelo garantia: “como secretário de Estado, só tenho que ter orgulho nesta organização, porque, objetivamente, as coisas correram bem”. Surreal, outra vez. Parecia que estávamos a ouvir um governante de outro país. Nós não temos motivos nenhuns para ter orgulho num secretário de Estado que é único que ainda não percebeu que deveria sair de cena.
Para não lhe ficar atrás, Rui Moreira fez uma declaração formal, onde garantia que “aquilo que sucedeu em Lisboa, não irá suceder aqui”. Pois não. Foi ainda pior, porque ficou apenas pela promessa. E perante o consumo desregrado de bebidas alcoólicas, desacatos na via pública e circulação sem máscara por todo o lado, para inglês ver, em reiterada violação do estado de calamidade em vigor, Moreira foi capaz de ver o que mais ninguém viu: “no fundo foi um balão de oxigénio… o balanço é claramente positivo”. Surreal, de novo. Parecia que estava a falar de outra cidade.
Moreira reconhece falhas à Direção-Geral da Saúde, à PSP e à Federação Portuguesa de Futebol, mas descarou a culpa no cartório, sempre exaltando a visita de adeptos e de turistas, para promover a economia local, nem que fosse à custa da arruaça, pancadaria e detenções.
Ainda mais grave e caricato, foi o presidente da Câmara do Porto classificar os incidentes de “casos menores” e acusar de “portofobia” todos aqueles que criticaram as autoridades por pactuarem com os episódios deploráveis de desordem pública nos cafés, restaurantes e nas “fanzones”, montadas nos Aliados, na Alfândega ou na Ribeira.
Para o Governo, a situação deve-se a quem furou a “bolha de segurança” que a ministra da Presidência apresentara como solução para a realização do evento com segurança. Mas o problema radica mesmo é na bolha de incompetência em que se move o Governo que, definitivamente, entrou em estado de negação.
O pântano está instalado dentro do Governo, que já não está apenas fragilizado. O País está sem liderança. Está em rota de colisão com a realidade. Não decide; adia. Já não é um governo, mas um aglomerado de figuras de autoridade esquivas que, quando tudo corre mal, se refugia na desculpabilização.
Artigo originalmente publicado no Povo Livre