José Cancela Moura: O partido do impossível

6 de maio de 2020
PSD
«Devemos mais preocupar-nos com a próxima geração do que com as próximas eleições»
Sá Carneiro, no VI Congresso, em 1 e 2 julho de 1978

O primeiro objetivo do PPD era cimentar as raízes da democracia, das liberdades individuais e do pluralismo e afirmar-se como alternativa clara e inequívoca a uma esquerda comunista, que mais tarde ameaçou substituir uma ditadura por outra, de inspiração soviética, que poderia ser tão ou mais nefasta que aquela que havia subjugado o País durante quase cinco décadas.

O PPD propunha situar-se ao centro do espetro político para, por um lado, contrariar a eventual aliança entre o PS e o PCP e, por outro, para ocupar todo o espaço à direita do PS e que poderia ser apropriado por partidos de índole nacionalista e autoritária.

Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota balizaram ideologicamente o PPD como um partido de centro-esquerda e vocação social-democrata, numa linha progressista e não marxista.

No primeiro programa do partido, eram notórias as críticas sobre a multiplicação das desigualdades sociais. O PPD defendida a democratização do País, opondo-se terminantemente ao Processo Revolucionário em Curso (PREC) e Sá Carneiro bater-se-ia contra a excessiva presença do Movimento das Forças Armadas nas instituições democráticas. Nem socialismo, nem reforma agrária, nem a muralha de aço do gonçalvismo.

Sá Carneiro acreditava era um visionário e, antes de todos os outros, acreditava e defendia um País assente numa economia de mercado, na liberdade de trabalho e de empresa e na propriedade privada. Fundou a primeira coligação de partidos, a Aliança Democrática, com forte apoio da sociedade civil, que veio obter a primeira maioria absoluta, da III República, em 1979, que garantiu a estabilidade governativa e devolveu a esperança aos portugueses. As pensões de reforma e os salários foram aumentados, carga fiscal desceu e o escudo foi revalorizado.

Aquela estabilidade política seria posteriormente reforçada com a abertura do País à economia de mercado, que culminaria, já depois da morte de Sá Carneiro, com a adesão à CEE, em 1986, e com a revisão da Constituição em 1989. Quatro anos antes, iniciara-se o ciclo de Cavaco Silva, como líder do partido, primeiro com um governo minoritário, depois duas maiorias absolutas, que retomava uma nova página de prosperidade. Com a privatização da imprensa, da legalização das rádios locais e a abertura da televisão à iniciativa privada. Portugal, definitivamente, entrava na rota da competitividade e da aproximação dos níveis de desenvolvimento de uma comunidade, a que agora pertencia.

Ao longo de mais de quatro décadas, o PSD teve como bandeira as políticas sociais, valorizando uma classe média pujante, sem nunca deixar de apoiar as classes mais vulneráveis, para garantir a justiça social e igualdade de oportunidades, que integram a matriz ideológica do partido.

O PSD nasceu pela força das convicções e cresceu como um partido de bases, com uma implantação forte e transversal a todos os estratos sociais. Um partido de causas que, como defendia Sá Carneiro “não vamos encher a boca com Abril, nem com a democracia, mas vamos trabalhar para o realizar, para fazer aquilo que os governos que nos antecederam não fizeram”. Outra das marcas que distingue o PSD de todos os outros, é o forte pendor reformista das suas lideranças, de que o fundador dera o mote, no VI Congresso Nacional, em 1978: “Devemos preocupar-nos mais com a próxima geração do que com as próximas eleições”.

O sentido de Estado e a firmeza das convicções de Sá Carneiro são hoje personificados por Rui Rio. É nele que recai a esperança de prosseguir o caminho de um partido que parecia impossível, que começou na mente de um homem, mas que se consolidou com um espírito de solidariedade e de trabalho a muitos braços, os “soldados na disponibilidade”, como recentemente exortou o próprio Rui Rio, no Parlamento, a propósito da crise pandémica que atravessamos, mesmo perante o risco e a incerteza.

“A força forja-se na luta, a firmeza no combate pelos princípios, a coragem no enfrentar da crise”. Estas palavras foram proferidas por Sá Carneiro, no discurso de tomada de posse do VI Governo Constitucional, em 1980, são muito atuais e fazem todo o sentido para o PSD e para o País.

O PSD comemora hoje 46 anos de vida. Parabéns PSD! Longa vida para o PSD!

Artigo publicado originalmente no Povo Livre