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A ordem moral não se decreta, muito menos tem dono. Mas em Portugal, há um certo partido que o mainstream mediático caiu no erro de vender como paladino da moralidade. O Bloco de Esquerda, que nasceu da combinação de três forças não-comunistas ou desalinhadas com as correntes mais obstinadas do marxismo soviético – o Partido Socialista Revolucionário, a União Democrática Popular e a Política XXI – reina apostando nas designadas causas fraturantes que, na verdade, umas vezes são posições de consciência individual e noutras tantas reportam as propostas sem prioridade ou aderência para a esmagadora maioria do país.
Em 2001, o BE elegeu a sua primeira presidente da Câmara Municipal, em Salvaterra de Magos, mas quando o Ministério Público acusou a autarca de falsificação de documentos, o Bloco de Esquerda logo descobriu que não estava imune, nem á lei, nem ao escrutínio dos tribunais. Não obstante o arquivamento, o episódio foi um pronúncio, mas o Bloco de Esquerda não aprendeu nada desde então.
Quando Ricardo Robles, vereador do BE em Lisboa, pôs à venda um prédio em Alfama com mais-valia de quatro milhões de euros, estes falsos moralistas não viram no facto qualquer incoerência ou contradição. Mas Robles, o fervoroso vereador crítico da especulação imobiliária, acabou por renunciar ao mandato, porque não resistiu ao paradoxo. Afinal os bloquistas também acumulam capital e lucros, mas a simples crítica causa-lhes urticária.
Mais recentemente, Luís Monteiro, ex-candidato à Câmara de Vila Nova de Gaia e deputado eleito pelo BE, acusado de violência doméstica, depois de uma tentativa de resistir por entre os pingos de chuva, retirou-se da corrida autárquica mantendo, no entanto, o exercício das funções de deputado e de natureza partidária. Claro que beneficia do princípio da presunção da inocência, mas expôs mais um buraco no enorme queijo suíço do BE.
São três exemplos, que provam que o Bloco de Esquerda não é uma irmandade de políticos superiores, mas antes um partido que reúne um conjunto de comuns mortais que alimentam uma ideologia e uma narrativa que chocam de frente com o seu próprio juízo de valor sobre a realidade. São três situações que revelam o BE como um partido intolerante e de natureza totalitária.
Só os fariseus exploram até à exaustão uma suposta superioridade moral, que, como vemos, não existe. Para o Bloco, há “nós” e os outros, como se o mundo existisse em modo dual, o que, de resto, não é muito diferente – parece até irmão gémeo – do equívoco entre “os portugueses de bem” e os outros, que em contraponto seriam portugueses de mal.
Foi do alto desta moral que Catarina afirmou orgulhosa, no encerramento da última Convenção do BE: “Mostrámos, assim, que existe uma alternativa à esquerda contra o marasmo. Não ficamos à espera dos problemas. Uma esquerda comprometida com as medidas que salvam vidas e que protegem empregos não fecha os olhos à epidemia de empobrecimento e de desigualdade. Não adiamos, não desistimos. Estamos aqui para a luta toda”.
Como é que disse? Mas afinal, onde estava é que ela estava quando o BE se aliou, de pedra e cal, numa geringonça para legitimar o governo de Costa, que havia perdido as eleições?
Quem amparou a governação de Costa não tem moral para se queixar dos seus resultados trágicos. Costa é a versão 3.0 de Sócrates, na incompetência, no amiguismo, na gestão da mentira e da ilusão e até na deterioração dos serviços públicos essenciais.
Sobra apenas Augusto Santos Silva, que se mantém como o último dos moicanos ingénuo, “ou parolo”, segundo o próprio, porque embora integrasse o “núcleo político de Sócrates”, nunca se deu “conta da existência de outro Santos Silva”. É preciso ter lata!
Depois de andar ao colo dos governos de Costa, o Bloco agora, já só sonha com Pedro Nuno Santos. A nova faceta do BE reside na apologia do poder e quer sentar-se na cadeira do governo. Nem que seja a muleta do PS e que o extremismo leve à destruição do que resta da economia de mercado e da integração europeia.
Francisco Louçã, o ideólogo-mor da farsa, continua a projetar Mariana Mortágua para ministra das Finanças, a mesma que criou o Imposto Mortágua, que queria acabar com os abusos do capitalismo. Ao Bloco agora só interessa o poder e a vaidade. E assim, sonha replicar para Portugal o modelo grego Varoufakis, e se calhar com cachecol Burberry. Só que todos os sistemas socialistas, incluindo o trotskista, esbarram mais cedo ou mais tarde, com a realidade.
O Bloco é um misto de ilusão e hipocrisia e é a prova de que, tal como dizia Virginia Woolf, “é muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade”.
Artigo publicado originalmente no Povo Livre