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Ana Paula Vitorino, ex-ministra do Mar e mulher de Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, é o nome indicado pelo Governo para presidir à Autoridade da Mobilidade e dos Transportes. Consta que irá ser retribuída, na função, com uma remuneração-base mensal de 12 mil euros, acrescida de 4.800 euros de despesas de representação.
Pedro Adão e Silva, comentador oficial do regime, ex-membro do Secretariado socialista e apoiante confesso de Sócrates, foi nomeado pelo Primeiro-Ministro como comissário executivo das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Adão e Silva irá receber 4.500 euros mensais no cargo. Diríamos que é, afinal, uma espécie de comissário político.
O mandato daquela estrutura de missão vai iniciar-se de imediato e prolongar-se até 31 de dezembro 2026, mais precisamente durante cinco anos, seis meses e vinte quatro dias, exclusivamente financiado pelo dinheiro dos contribuintes, em momento muito anterior às celebrações e muito para além da extinguiu da sua própria finalidade.
Como se não bastasse, este dislate ainda teve aval presidencial.
É como se as Jornadas Mundiais da Juventude de Lisboa, evento que se realizará em 2023, promovido em parceria pela Conferência Episcopal Portuguesa e pelo Vaticano, continuasse a ser financiada como um compromisso plurianual, em 2024 e 2025. Portanto, nada que seja diferente da ruína financeira da Parque Expo, que acumulou prejuízos durante duas décadas, após o encerramento da exposição mundial, de 1998.
Segundo a Resolução do Conselho de Ministros que aprova a missão, fazem parte ainda da Comissão Executiva, três adjuntos, três técnicos especialistas, um secretário pessoal, um motorista, quatro técnicos superiores contratados em regime de mobilidade e mais uma equipa de apoio logístico e administrativo. Como diria Guterres, é só fazer as contas. Para comemorar “a memória da resistência de um dia”, o Governo mandou às malvas a crise social e económica e desbarata milhões de euros e uma faz um autêntico festim de cargos, completamente inexplicáveis.
Dizem que é para regenerar o espírito de Abril. A mim parece-me mais um atentado ao próprio regime democrático. Estas duas decisões escandalosas, servem apenas para cavar cada vez mais fundo o abismo que separa os eleitos e eleitores. Constituem até mais um ataque soez aos que, genuinamente, servem a causa pública com convicção, honra e dignidade. Mas em política ainda não vale tudo, nem todos podem ser metidos no mesmo saco. E neste caso, Costa, Ana Paula Vitorino e o próprio nomeado, eles e só eles, respondem por estas verdadeiras chumbadas aos valores de Abril.
Mais incrível, quanto bizarro, é que o Pedro Adão e Silva, não o comissário, mas o comentador e colunista, passa o tempo a dar lições de isenção e de distanciamento político. Mas afinal é esta a filosofia que este destacado socialista tem para dar os seus auditórios, alunos e telespetadores? Pedro Adão e Silva caiu na tentação de come a maçã, mas ela era socialista, está podre!
O Partido Socialista, de António Costa, nunca se libertou das amarras do socratismo ruinoso e da tentação de controlar as instituições. Afinal Costa foi o número dois e é o alter-ego de Sócrates. Portugal é uma república a saque, vítima do nepotismo que tomou conta do Estado. É assim, com esta praxis política, que Governo quer “perpetuar, regenerar e alargar o vínculo com o regime democrático, celebrando o arco democrático que se iniciou no 25 de abril de 1974”, como consta dos objetivos das comemorações da Revolução?
O Governo, o Primeiro-Ministro e o ministro das Infraestruturas e da Habitação têm legitimidade de nomear, no âmbito das suas competências, quem quiserem, mas que pelo menos cumpram os mínimos. Não podem é fazer da democracia um sistema de favores em cadeia, sob pena de estarmos a achincalhar a democracia, cada vez mais ameaçada pelos populismos.
E não se trata apenas do “FamilyGate”. O PS está a fazer um leilão de lugares, à custa do erário público. Como aconteceu com a Parque Escolar, com o TGV, o Aeroporto de Beja e o endividamento que culminou na pré-bancarrota, outra vez Sócrates, é natural que a seguir à pandemia, e apesar da esgotada bazuca europeia, o país acabe por esbarrar contra uma parede da irresponsabilidade para assegurar compromissos.
Pensávamos estar longe das práticas de instrumentalização, sem pudor, do aparelho de Estado, próprias das ditaduras e dos regimes de partido único, pondo-o ao serviço de uma clientela, mas parece que não.
Esta pandemia de nomeações socialistas é uma peste que lhe está no sangue, não tem cura e vai deixar gravíssimas sequelas nas contas do Estado, por muitos anos.
Artigo publicado originalmente no Povo Livre