José Cancela Moura: Degradação

21 de julho de 2021
PSD

A pandemia que pôs o mundo em agitação não chega para explicar o estado de desgoverno a que o país chegou. O estado da Nação é um verdadeiro estado de doença. O Primeiro-Ministro, apesar de estar no pleno exercício de funções, há muito tempo se demitiu de executar um programa de reformas, para governar como se isto fosse “um mar de rosas”.

Na saúde, na educação, na economia, nas políticas sociais, na autoridade do Estado, na segurança, na agricultura, na gestão das empresas públicas e na cultura o Executivo limita-se a cumprir mínimos e a gerir expectativas, acumulando fracasso atrás de fracasso. 

É um governo sem rumo, que relega para segundo plano as prioridades do país, deixando-o à mercê da clientela socialista, em todos patamares da administração. O PS desistiu de Portugal e só se preocupa em canibalizar o Estado. 

É, de facto, uma nação enferma. Os familiares da ministra da Cultura voltam a celebrar contratos com uma empresa da Câmara Municipal de Lisboa. É verdade que a ministra não tem qualquer participação social na sociedade do pai, da mãe e do irmão, mas ela foi vereadora da autarquia, até 2015. Pode até nem estar em causa a prática de um ilícito, mas existe, sem dúvida, um claro conflito de interesses. Pode não estar em causa um crime, mas o facto é passível da maior censura ética.

Aliás, e lamentavelmente, a autarquia de Lisboa tem sido, no passado recente, uma espécie de arena onde se digladiam as duas alas do PS, a moderada e a dos jovens turcos. E, no que toca a contratos públicos, os socialistas não olham a meios para atingir fins. Por exemplo, a Câmara fez um ajuste direto de 425 mil euros a uma empresa, cujo presidente do Conselho Fiscal, José Cardoso da Silva, foi vereador eleito nas listas do PS, com o pelouro das Finanças, no primeiro mandato de António Costa, para oferecer o kit “Lisboa Protege” a quem é vacinado na capital, que, curiosamente inclui um pacote de bolachas de água-e-sal, uma garrafa de água, da mais cara que existe no mercado, e uma peça de fruta importada da Polónia.

Pela prova anexa, fácil é concluir que o PS é exímio em criar, com os velhos vícios, novas oportunidades de negócio.

O outro exemplo do rigor socialista é a derrapagem das obras de reabilitação do Hospital Militar de Belém, que mereceu até uma reprimenda do antigo Presidente da República, Ramalho Eanes. O custo final foi de 3,2 milhões de euros, praticamente quatro vezes superior ao custo orçamentado. Há poucos dias o Ministério da Defesa desclassificou o relatório da auditoria realizada, o que irá permitir que os deputados possam escrutinar toda a operação. A confidencialidade das conclusões dará, com certeza, lugar a uma evidência incontornável. O PS desbarata o dinheiro dos contribuintes e fá-lo, escandalosamente, aos olhos dos próprios.

Para que serve, afinal, um Governo? Sobretudo e principalmente para tomar as decisões, impopulares e difíceis, fazer reformas em nome de um bem maior – o interesse nacional – e garantir a aplicação rigorosa dos nossos impostos.

Não adianta, por isso, que o Governo desvalorize os factos ou alegue que estas situações são casos menores. O dinheiro dos contribuintes é sempre um assunto sério e da maior relevância. 

Questiona a sabedoria popular, e bem, “Quem te manda a ti, sapateiro, tocar tão mal rabecão?” Eduardo Cabrita, Matos Fernandes, Graça Fonseca, Brandão Rodrigues, Van Dunem e companhia não sabem da arte e tocam tão mal que a orquestra, a cada quinta-feira, está cada vez mais desafinada. E o Governo é a imagem de um navio sem rumo, que sofre mais um rombo, a cada dia que passa, com o comandante à espreita de um bote de salvação, que o leve para paragens mais seguras.

No dia que se realiza o debate do Estado da Nação, Portugal tem um governo sem noção da realidade, que há de cair no seu próprio ridículo. Um governo que está preso à inação, à incompetência e à resignação. O Estado da Nação é o estado a que chegamos, de uma degradação dos princípios, dos valores, mas também das decisões.

Artigo publicado originalmente no Povo Livre