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No passado domingo, António Costa, no fato de secretário-geral do PS, foi a Matosinhos anunciar que vai dar uma “lição exemplar” à administração da Galp por ter encerrado a refinaria de Matosinhos.
Em 6 de maio passado, António Costa, na qualidade de primeiro-ministro, precisamente em Matosinhos, quis dar uma lição exemplar de governação, mas em sentido contrário: “Portugal orgulha-se de ser indicado pela Comissão Europeia como o país que está em melhores condições para alcançar os objetivos de 55% ao nível da redução de emissões, mas isso tem custos. Neste concelho de Matosinhos, acaba de encerrar uma refinaria. Foi um enorme ganho para a redução das emissões”.
Para Costa, não interessa a circunstância, nem ou a qualidade em que fala, o que interessa é iludir, enganar, dizer o que é mais conveniente a quem o ouve, neste caso aos eleitores: “Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade como aquela que a Galp deu provas aqui em Matosinhos”, vaticinou no domingo passado.
Poderíamos pensar que o encerramento da refinaria de Matosinhos seria um lapso ou um momentâneo estado de amnésia do secretário-geral do PS – ou do primeiro-ministro, porque não sabemos onde acaba um e começa outro – mas não. O caso é mesmo descaramento completo, de um chefe de um Governo que não se enche de vergonha da própria mentira.
António Costa age verdadeiramente como agente duplo. Tanto está ao serviço do Estado como é um partisan eleitoral de uma estratégia marcada pela dissimulação e desinformação.
A destruição de 1.600 postos de trabalho, diretos e indiretos, que resultaram do fecho da refinaria, deixa mal na fotografia um primeiro-ministro que quer agradar a gregos e a troianos, deixando a comissão de trabalhadores da Galp em estado de indignação.
Quando os portugueses se preparam para levar com mais um aumento de 3% no preço da luz, é importante recordar que o Governo fechou os olhos à “borla fiscal” da venda de seis barragens na bacia do Douro. Temos um Governo cheio de energia com os consumidores portugueses, famílias e empresas, a quem lhes carrega na conta da eletricidade, mas permite que a Autoridade Tributária abra mão de 100 milhões de euros, a favor de uma empresa que goza de saúde financeira invejável. O Ministério das Finanças foi omisso na responsabilidade de cobrar impostos e o Ministério do Ambiente foi cúmplice, num crime de evasão fiscal – ou em instrumentos de planeamento fiscal abusivos.
No conto de Carlo Collodi, a fada azul apercebeu-se que quando Pinóquio mentia, o nariz do rapaz começava a crescer. Ora, em Portugal, de cada vez que Costa presta declarações públicas, a mentira corre o risco de ser tão grande que até os bonecos de madeira podem ganhar vida.
“Volta para casa, para junto do teu pai. Sê um menino bem-comportado e não mintas mais”, disse a fada azul ao rapaz de madeira. O País, por estes dias, é o verdadeiro conto de Carlo Collodi, revisitado. Sempre atual e com novas personagens que nos deixam incomodados, porque a realidade é sempre mais cruel que a ficção.
O Governo decide pouco e quando o faz procura, por todos os meios, impor um apagão aos seus atos de gestão. A mentira está no ar nesta campanha eleitoral e todas as mensagens, falsas ou falaciosas, valem para enganar os mais incautos. Mas não tenhamos ilusões, o atual Governo é ele próprio uma mentira.
Artigo publicado originalmente no Povo Livre