David Justino, em entrevista ao “Diário de Notícias”, esta sexta-feira, traça um retrato “pouco animador” da educação em Portugal. O ex-ministro sublinha que a pandemia tem demonstrado a “importância do ensino presencial”, atendendo a que o ensino mediado pela tecnologia continua a ser uma “ideia utópica”.
O coordenador nacional do CEN para Educação e Desporto assinala que “a aprendizagem é muito mais do que o acesso e a transmissão de conhecimento: é intenção social, é o aprender em conjunto, é interiorizar um conjunto de regras e maneiras de pensar que não está ao alcance das tecnologias”.
Sobre o acesso ao ensino superior, o vice-Presidente do PSD qualifica de “grande irresponsabilidade” a alteração do perfil das provas e os critérios de avaliação do ano passado, contribuindo para “uma manifesta inflação de notas”. “Houve provas em que a maioria das notas estavam aconchegadas ao mais elevado percentil. A principal consequência vê-se agora: descrédito das provas e uma machadada no princípio da equidade e transparência no acesso ao ensino superior. Não sei se o aumento das vagas repõe esses princípios. É um expediente que poderá satisfazer alguns, mas vai ter implicações na gestão dos estabelecimentos de ensino superior”, aponta.
Quanto ao plano para a recuperação das aprendizagens, David Justino considera que está enfermo de dois “pecados mortais”: um é encher o plano com milhões de euros para equipamentos, quando todo o processo está dependente de “um maior esforço pedagógico e de um bom planeamento”, e quando se sabe que “a maior parte dos instrumentos de monitorização do sistema de ensino foram pura e simplesmente mandados pela janela fora”; o segundo erro reside na ideia de que é possível recuperar as aprendizagens até 2023, uma meta apenas estabelecida por coincidir com ano de eleições legislativas