Atrasos no “lay off” e nas linhas de crédito estão a dificultar apoios às famílias e empresas

6 de maio de 2020
PSD

Na primeira conferência online do Conselho Estratégico Nacional (CEN), inserida nas celebrações do 46º aniversário do PSD, que este ano decorrem através dos meios digitais, deputados e dirigentes do PSD criticaram, esta terça-feira, a resposta económica e sanitária do Governo à pandemia, nomeadamente o fracasso na execução do “lay off” e nas linhas de crédito para as empresas.

O presidente do CEN, Joaquim Sarmento, que fez a introdução do debate, subordinado ao tema “Saúde e Economia: Que equilíbrio possível?”, analisou alguns problemas detetados na ação governativa. “Temos hoje a perfeita noção que, quer o regime de ‘lay off' quer as linhas de crédito criadas pelo Governo, falharam em toda a linha no apoio às empresas e no apoio aos trabalhadores e às famílias”, criticou, salientando que o PSD, através do CEN, já apresentou um primeiro conjunto de medidas e lançará um pacote global mais completo para recuperação da economia no final de maio ou início de junho. Será um programa de medidas, “quer para recuperar do impacto desta crise quer para melhorar a competitividade da economia portuguesa”, e para o qual o CEN apela ao envio de sugestões e contributos públicos para cen@psd.pt.

Álvaro Almeida, deputado e coordenador da Comissão de Saúde no Parlamento, defendeu que “a capacidade de anúncios” do Governo se tem de traduzir “em capacidade de execução”. “Se isso for feito – e até agora não tem sido –, se o Governo for capaz de emendar a mão e fazer chegar às empresas portuguesas tudo o que prometeu e não entrar em devaneios sobre grandes investimentos públicos numa altura em que os esforços devem estar concentrados em as empresas que existem, teremos uma crise, é inevitável, mas poderá ser curta e passageira. Se não for capaz, o futuro económico será negro”, referiu.

Do lado da saúde, Ricardo Baptista Leite, deputado, que tem participado nas sessões regulares informativas sobre a covid-19 com os epidemiologistas no Infarmed, criticou a atitude de Governo e das autoridades de saúde no início da pandemia, que classificou como “de negação”, já que foram os portugueses que “pressionaram” o Governo a adotar uma estratégia de confinamento. “Foram os portugueses que, vendo o que se estava a passar em Espanha e Itália, tomaram a decisão de ficar em casa, tirar os filhos da escola e fechar as portas das suas empresas. Isto levou a uma pressão social que fez com que o Governo e o Presidente da República, com o estado emergência, acabassem por avançar com medidas, mas eu não tenho dúvidas de que essa intervenção precoce da população portuguesa foi determinante nesta primeira onda”, afirmou.

Para o futuro, Ricardo Baptista Leite defendeu que o planeamento será também determinante, sublinhando que “não haverá desculpas para o país não estar preparado para o próximo Inverno” e deixando um alerta para o que pode ser uma segunda onda da covid-19 em simultâneo com uma “má época” de gripe. “A maioria de países europeus aumentaram as suas requisições de vacinas de gripe – alguns fizeram pedidos 80% superiores ao normal – e, à data de hoje, Portugal ainda não fez uma encomenda de vacinas”, disse, avisando que essa produção é limitada.

Ricardo Baptista Leite atribuiu ainda à “falta de planeamento” a menor resposta do Serviços Nacional de Saúde (SNS) a outros problemas: “Diminuiu radicalmente o diagnóstico do número de cancros em Portugal nos últimos dois meses, não me venham dizer que a covid cura o cancro”, alertou.

O deputado saudou o Governo por finalmente ter determinado a utilização das máscaras obrigatórias não só nos transportes públicos, mas também nas lojas, seguindo uma proposta do PSD, e referiu até que o Executivo já decidiu cancelar “tudo o que são eventos de massas até 31 de agosto”.

António Araújo, médico oncologista, alertou para a “suborçamentação crónica do SNS”, que “tem um défice muito grande em termos de estrutura, de material pesado e, sobretudo, de recursos humanos”. “A covid veio trazer uma pressão muito acrescida ao Serviço Nacional de Saúde que já estava constrangido”, disse.

António Araújo espera que o SNS possa controlar uma segunda vaga de infetados, lamentando que o SNS tenha desperdiçado uma oportunidade única, antes da era covid, de se preparar para o futuro. “As necessidades da população há 40 anos eram completamente diferentes das que existem hoje. (…) O futuro da saúde em Portugal está muito comprometido, mais ainda se houver uma crise económica”, especificou.

Na conferência transmitida pelo Facebook do PSD, Ricardo Mexia, moderador da conferência, enalteceu a qualidade do painel de oradores de debate perante uma crise que mexe com o equilíbrio entre “manter a economia a funcionar e preservar a saúde de todos os cidadãos”. Para o médico de saúde pública, a evolução da pandemia irá obrigar a uma “avaliação dinâmica” e permanente da situação epidemiológica, “por forma serem tomadas as medidas necessárias”.