Estado de decência (II)

1 de maio de 2020
PSD

1. O artigo que nestas páginas publiquei no mês anterior intitulei-o de "Estado de decência", referindo-me então à importância de que a Banca se assumisse como um agente decisivo no apoio à nossa economia, de que a Banca estivesse disponível para devolver ao país e aos portugueses as ajudas de que foram já beneficiários no passado.

Dizendo então que essa "não é uma posição revolucionária, mas de decência cívica". O que fiz na sequência do corajoso discurso de Rui Rio no Parlamento. Então surpreendeu muita gente. Hoje vê-se a razão que teve em ter essa palavra na altura em que o fez.

2. Desta vez, pretendo usar a mesmíssima expressão mas com um objetivo completamente diferente. Não apenas para aproveitar a rima da palavra "decência" com a palavra "emergência" mas porque os tempos que vivemos e, sobretudo, os que viveremos no futuro próximo, exigem de nós posturas de grande dignidade, exigem de nós a resistência total ao aproveitamento político do momento que vivemos, exigem de nós, numa palavra: decência.

3. Não é aceitável, numa altura como a que vivemos, que o Governo coloque uma comitiva de ministros (acompanhados do presidente da Câmara de Lisboa, por razões que só o primeiro-ministro saberá) a deixar-se fotografar, de um modo estulto, ao lado do avião da TAP que trazia os primeiros ventiladores da China.

4. Não é aceitável, numa altura como a que vivemos, que vários membros do Governo com assinalável destaque para o primeiro-ministro, colonizem o espaço televisivo em momentos de entretenimento e outros que estão bem para lá da rigidez e ponderação das comunicações que devia o nosso Governo estar a fazer.

5.Não é aceitável, numa altura como a que vivemos, que o Partido Socialista resolva investir em meios de comunicação próprios para fazer campanha com alegados feitos governativos no combate à pandemia, quando se exigia do partido que suporta o Governo um comportamento adequado ao apoio transversal que tem tido em sede parlamentar.

6. Mas não é aceitável sobretudo, numa altura como a que vivemos, o episódio de distribuição de comida pelos pobres, após a sessão protocolar no 25 de Abril. Na medida em que representa uma atitude que não nos pode orgulhar e que se encontra nos antípodas da moderação que a todos nos é exigida.

7. Tempos difíceis forjam grandes líderes, como expõem quem se pretenda aproveitar do momento. De pouco nos importa o futuro político dos nossos atuais protagonistas. Importa-nos que sejam capazes de estar à altura do momento que vivemos. Em termos executivos, naturalmente, mas também em termos da postura que se exige a quem lidera uma comunidade em sofrimento. É uma questão de decência.

Artigo publicado no JN.