José Cancela Moura: social-populismo

8 de julho de 2020
PSD

O ministro do momento não para de surpreender-nos, mas sempre pela negativa. Na gestão desastrosa do dossier da TAP, Pedro Nuno Santos não conseguiu explicar por que razão a companhia aérea portuguesa é a única que a Comissão Europeia obrigou a reestruturar e a deixar de fora dos auxílios estatais relacionados com a covid-19.

No braço de ferro com os privados na TAP, o ministro prometia ir até às últimas consequências, leia-se nacionalizar, se fosse preciso. O governante, que um dia ameaçou pôr os banqueiros germânicos com as pernas a tremer, propondo a interrupção no pagamento da nossa dívida soberana, disponibilizou, sem pestanejar, 1,2 mil milhões de euros para injetar na TAP. Adivinha-se que a primeira de uma vaga, porque, ano após ano, será necessário socorrer uma empresa que já estava em estado de coma antes da pandemia. Para que serve, afinal, a reversão da privatização?

Nos comboios, a situação também é engenhosa. Numa visita ao parque oficinal, em Matosinhos, onde a CP está a requalificar uma série de carruagens compradas à espanhola RENFE, o ministro deixou a garantia de que Portugal vai dar um exemplo ao mundo. “Num momento em que ouvimos grandes valores em outras empresas e passamos por dificuldades (…) estamos disponíveis para ensinar outros Estados estrangeiros, mas também privados a fazer bons negócios”, afirmou o ministro. Presunção e água benta cada um toma a que quer, dizemos nós.

Pedro Nuno Santos, que se situa na linha dura de um socialismo, quase marxista, que rejeita a economia de mercado, sabe bem do que fala quando jura, a pés juntos, que agora é que Portugal vai ser um notável exemplo na gestão de empresas. Natural de Aveiro, o ministro talvez pudesse aprender mais com a experiência de empresários de sucesso, que erguerem empresas de referência, subiram na vida a pulso, sem nunca estarem dependentes dos auxílios ao Estado.

Falta recordar ainda ao ministro das Infraestuturas a herança que a governação socialista deixou ao País. A festa da Parque Escolar, o bodo das Parcerias Público-Privadas, o TGV que nem saiu no papel, agravada com o pagamento de indemnizações, ou o aeroporto de Beja, que está às moscas. Há quem diga que o passado não se repete, mas o anúncio da construção de um novo aeroporto, no Montijo, pode confirmar precisamente o contrário. Tudo à grande e à francesa, sem sequer se questionar, porque se faz, como se faz e como se paga.

Pedro Nuno Santos deu uma entrevista esta segunda-feira. E deixou-se fotografar em frente a um avião para ficar para a posteridade como a imagem de um homem um dia intervencionou uma companhia aérea, parada no chão, e num mundo que pode ser tudo, menos cor-de-rosa. O ministro prometia uma gestão profissional para a TAP, mas ainda na semana passada nomeou o seu antigo chefe de gabinete para presidente do Porto de Leixões, que é acompanhado com mais três membros ligados ao PS.

Todos os populistas têm direito ao seu momento. Este ministro já tem lugar na história de Portugal, mas sem glória e pelas piores razões e sem glória. O populismo, de retórica folclórica e dos sound-bites do PREC, tem um rosto em Portugal. Chama-se Pedro Nuno Santos. Não se iludam, porque o populismo tem um preço e é só uma questão de tempo até a fatura nos cair nas mãos. Governar não é brincar aos aviões e aos comboios, muito menos com o dinheiro dos contribuintes.

Artigo publicado originalmente no Povo Livre