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António Costa, longe da realidade, construiu mais outra fantasia e vive obcecado à volta dos 16,6 mil milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e insiste falar de um país pintado cor-de-rosa. Dá-se ao desplante de usar expressões como “um futuro melhor para cada português e para cada portuguesa” ou “uma geração mais qualificada” e até jura que vai “erradicar a pobreza infantil”, quando sabe que, infelizmente, estamos cada vez mais perto de ser o país mais pobre da Europa. Vai agora fazer em seis meses, tudo aquilo que não fez ao longo de seis anos?
Quem assistiu aos quarenta minutos do discurso de encerramento do 23.º Congresso do PS no passado domingo, em Portimão, sentiu-se confuso, porquanto Costa parecia mais um guru num workshop de promessas ou numa TED talk de propaganda e menos como secretário-geral.
As famílias carenciadas irão receber uma garantia fiscal de 600 euros a partir do segundo filho, 900 milhões de euros serão destinados à recuperação de aprendizagens no ensino, 750 milhões de euros vão para a modernização das escolas e centros de formação profissional, o programa Impulso Jovem Steam vai ser reforçado, para que 40% de jovens se formem nas ciências, engenharias e matemáticas até 2025, mais 10 mil vagas em creches e bolsas para estudantes que pretendam frequentar mestrados. Não haverá cativação que chegue para tanto e o ministro das Finanças nem saberá fazer contas a tanta despesa, ou então, lá voltará a engolir os sapos da extrema-esquerda durante as negociações do próximo Orçamento do Estado.
Afinal, o Governo esqueceu-se do mais importante: as ideias, as contas certas, a recuperação do país da crise pandémica, social e económica, o reforço de um SNS extenuado e sem recursos, onde só se morre de covid-19, o Ministério da Educação que quer gastar 3 milhões de euros em bicicletas, quando ainda há os alunos que não têm acesso à própria escola à distância.
Um Governo inebriado com os dinheiros da bazuca, mas com o Estado a cair aos pedaços. Um Executivo em fim de ciclo, mas com um primeiro-ministro a prometer como se não houvesse amanhã, antes de sair de cena. Estamos cansados desta conversa fiada e do despudor com que se destrata o País.
Foi um Congresso mais centrado na feira de vaidades em torno da sucessão do próximo secretário-geral do PS do que nos problemas do País. O ego e as motivações de Marta Temido que, com a filiação, reeditou o milagre das rosas, Mariana Vieira da Silva, delfim de Costa no Governo, Ana Catarina Mendes, a líder parlamentar, Fernando Medina, o herdeiro da Câmara Municipal de Lisboa e Pedro Nuno Santos, o arquiteto da geringonça, valeram sempre mais que qualquer reforma estrutural que pudesse ser anunciada ao País.
Costa bem apelou “este é um partido onde não temos problemas internos. (…) este não é o tempo para desanimarmos. É o tempo de nos animarmos. Este é o tempo de arregaçar as mangas”. Mas tão sem ânimo e sem chama que, perante tanta promessa, até tropeçou nos números sobre os aumentos para o abono de família. O Congresso do PS não nos trouxe o retrato real do país, mas a fotografia de um PS esgotado, dividido e centrado nos seus próprios interesses.
Portugal bate todos meses recordes de endividamento, com os impostos sobre os combustíveis a onerarem cada vez mais quem tem carro, com muitas empresas em lay-off, à beira dos despedimentos e da falência ou com os grandes exportadores parados por falta de componentes tecnológicos.
O rei vai nu. Costa tem, como Orson Welles, O Mundo (Socialista) a Seus Pés e a corte bem pode entrincheirar-se no interior do palácio. A verdade é que o poder é efémero e os milhões de euros do PRR esfumar-se-ão num ápice.
Artigo publicado originalmente no Povo Livre.