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Numa corrida contra o tempo, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) admite que poderá aprovar as primeiras vacinas contra a covid-19 até ao final do ano. A cinco semanas de terminar o ano civil ou o ano da primeira pandemia do século, em Portugal continuamos a depender da sorte ou da divina providência. Por muito que alimentemos a nossa fé, esta pandemia nunca será debelada sem o contributo da ciência e a coragem dos profissionais de saúde.
Quando a Alemanha e o Reino Unido já têm definidos os circuitos e os critérios de distribuição da vacina, a ministra da Saúde ainda diz que vai planear. Quando o Governo já devia estar a executar, só agora nomeou a comissão que vai desenhar o plano de vacinação.
Na verdade, Marta Temido, que se adivinha estar como ministra, só pelo tempo que durar a pandemia, pode muito bem vir a ser a vítima política da crise sanitária. Começou com a desvalorização do surto na China, um erro comum a todos os governos ocidentais, que agora, entretanto, se prolongou com a falta de preparação da segunda vaga.
Todos os decisores cometem erros, mas quando estes, em vez de exceção, se tornam regra, então não há atenuante para o espetáculo de incompetência a que assistimos. As prisões estão “sem rei nem roque”, à semelhança do que antes aconteceu com os lares de terceira idade na primeira vaga. Mas também que podemos esperar de um Governo que resistiu em aprovar a atribuição de prémios de desempenho aos profissionais de saúde do SNS na primeira fase e que, agora, na segunda vaga, se esqueceu, deliberadamente, de garantir a mesma medida?
As vacinas contra a gripe não chegaram nem a tempo, nem em número suficiente, depois do Governo ter garantido vacinas para todos. No entanto, a ministra da saúde garante que o Governo está a preparar tudo para distribuir a vacina contra a covid-19 já em janeiro. E a vacina da gripe, chegará a todos os portugueses em janeiro?
Uma contradição. Em reiterado incumprimento quanto à palavra dada sobre a vacina da gripe, a ministra da Saúde, numa clara ação de propaganda, vincula-se a uma nova promessa, que se indicia com o mesmo resultado.
Esta é a marca genética do PS. Prometer, sempre! Cumprir, quando calhar!
Parece que, este ano, pela primeira vez em muitos anos, milhares de portugueses não estarão vacinados contra a estirpe de influenza, incluindo grupos de risco, como idosos e grávidas. Por isso, não será de admirar que as vacinas para a covid-19, não só não cheguem em janeiro, como quando se iniciar o plano de vacinação, se instale o caos sobre a quem e a que segmentos deve ser ministrada em primeiro lugar.
Faltam cinco semanas para que aquele prazo seja cumprido e continuamos, portanto, a depender mais da sorte ou da divina providência do que na palavra do Governo.
Tal como, no passado recente a adoção das medidas sanitárias e atual estado de emergência, esta operação de vacinação constituirá um gigantesco desafio para a capacidade de resposta do País como um todo.
Não podemos, de resto, esperar que as autoridades de Saúde distribuam esta vacina como se estivessem a cumprir a campanha anual de vacinação contra a gripe. Primeiro, porque estamos num contrarrelógio contra uma crise sanitária, sem precedentes, que vai deixar uma devastação económico-social prolongada. Em segundo lugar, porque a competição internacional para adquirir vacinas vai agravar um fosso entre blocos económicos e acentuar protecionismos. Em terceiro lugar, porque as condições de logística, transporte e conservação, específicas desta vacina, exigirá uma organização, sem paralelo, entre o Estado e sociedade civil.
Por fim, há ainda um fator político a ter em conta. Este é também o ano em que o PS se sentou ao colo do PCP. Foi este o parceiro que ficou a servir de boia de salvação de um Governo que passou por cima de todas as leis e distratou os portugueses cumpridores, particulares e pequenos empresários e comerciantes. Um Governo que, com o beneplácito da DGS e de uma assentada, consentiu o 1.º de Maio, a festa do Avante! e o XXI Congresso do PCP em Loures, um território de risco muito elevado. António Costa agarrou-se ao paquete comunista, mesmo que minando a autoridade e a credibilidade do Estado. Para o Primeiro-Ministro, há uns portugueses mais iguais que outros e os que contam são os camaradas do Rato, de São Bento e do Comité Central do PCP, na Soeiro Pereira Gomes.
José Cancela Moura
Artigo publicado no Povo Livre de 25 de novembro 2020