Portugal despede-se da presidência do Conselho da União Europeia e passa a pasta à Eslovénia. A quarta presidência portuguesa fica marcada por um momento insólito, mas revelador.
No final da cerimónia de assinatura do contrato do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o Primeiro-Ministro, presidente em exercício do Conselho da UE, dirigiu-se a Ursula Von der Leyen, e proferiu uma frase que resume a gula dos governos socialistas: “Now, can I go to the bank?”
Elisa Ferreira, Comissária Europeia para a Coesão e Reformas, ainda se espanta que Portugal “com tantos anos de apoio … ainda está entre os países atrasados”. “É penoso”, confessa a antiga ministra.
É uma raridade ver um socialista admitir e a reconhecer, de forma tão cristalina, uma verdade – o PS foi governo em 11 dos últimos 15 anos – e até contradizer um Primeiro-Ministro que, perante a pandemia e os desafios climático e digital, trata o novo mecanismo de recuperação, como se fosse um porquinho mealheiro.
Estão a chegar os milhões de Bruxelas, para dar corpo à “visão estratégica para o plano de recuperação económica de Portugal 2020-2030”, mas a premissa é exata e rigorosamente a mesma, que consta da cartilha socialistas, desde sempre. O PS trata o dinheiro público, seja dos fundos europeus seja dos contribuintes nacionais, como se fosse uma fonte inesgotável. O banco são as pessoas.
Portugal não sai da cepa torta enquanto prevalecer esta mentalidade de pedinte, em que se trata a UE como uma entidade abstrata e mera financiadora de obras faraónicas, camufladas de investimentos necessários ou estruturantes.
Aeroporto em Lisboa? Avançamos para o Montijo – ou para outro lugar qualquer. Há uma promessa de esperança energética assente no lítio e nas formas limpas? Partimos para a exploração injustificada e para subsidiação dos consumidores. Há uma cidade sem autoestrada? Fazemos mais uma via rápida, concessionamos e cobramos depois em portagens e em combustíveis – dos mais caros do mundo. São planos atrás de planos, intenções atrás de intenções e Portugal sempre a afastar-se da coesão europeia.
Não há nada, pois, nada de novo quanto à irresponsabilidade socialista. Basta recordar o mau exemplo dos gastos da presidência portuguesa para fatos, camisas, vinhos, brindes e um centro de imprensa fantasma. Podemos esperar por uma utilização plena e eficaz dos fundos europeus? Podemos. Mas temos muitas dúvidas que seja com os governos socialistas, que dominam de forma hábil todas técnicas da ilusão e da manipulação das massas.
Portugal continua a ser uma oportunidade adiada. Até quando? Talvez até um inevitável novo resgate, para evitar o contágio sistémico na zona euro, quando percebermos que já esgotamos o financiamento externo.
O que importa é que temos um chefe de um (des)governo que sabe onde pode ir quando precisar, “the bank of Brussels”. Nessa altura, teremos a surpresa espetada diante dos olhos: “o banco fechou portas” ou “o banco mudou de instalações”.
Marcou uma era da publicidade de ouro o slogan “Se queres dinheiro, vai ao Totta”. Agora é mais, se queres dinheiro vai ao Rato e pede ao Costa. Portugal já não tem o Totta, mas tem dívida, cada vez mais alta, atraso e uma memória recente s. Qualquer dia não teremos fundos europeus, apenas más lembranças e já Costa estará noutras andanças. Para Costa teria sido mais eficaz manter o registo das vacas voadoras. Costa é um pedinte de Estado, que deixará o país inegavelmente mais pobre.
Artigo publicado originalmente no Povo Livre